quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Entrevista com Tomaz Morais

David Andrade, em Toulouse (texto e foto)



PÚBLICO -Que balanço faz da participação portuguesa no Campeonato do Mundo de râguebi?
Tomaz Morais - Fantástico. Não podia ser mais positivo. Tal como os jogadores disseram no final do jogo contra a Roménia, se pudéssemos comprar estes resultados, comprávamos. Faltou-nos a sorte que não tivemos connosco e procurámo-la. Contra a Roménia não tivemos jogadores como o Marcelo D’ Orey, o Vasco [Uva] ou o Juan Severino. Sem menosprezar os outros, estes são três jogadores importantes que jogam na segunda-linha e nesse jogo não tivemos segunda-linha de fora e, a determinado momento do encontro, eles lançaram grandes armas, como o Tincu e o Socol, jogadores de renome mundial e de alto nível. Aí fez-se a diferença. Penso que fizemos grandes jogos e os resultados nunca reflectiram as exibições da equipa. Defendemos grandes valores e a grande atitude da equipa e tudo isso ficou aqui dignificado. Os jogadores portaram-se como heróis. Toda a equipa, quando jogou, colocou tudo o que tinha em campo e foram valentes. Andaram com a cabeça onde os outros metem as botas. A prestação deles foi fantástica.

Qual foi o melhor e o pior jogo de Portugal?
Todos os jogos foram bons. Tivemos um momento contra a Nova Zelândia, após o nosso pontapé de ressalto, em que nos perdemos completamente em campo e eles marcaram pontos de uma forma demasiado fácil. Depois houve grandes momentos. Marcar um ensaio à Nova Zelândia ficará para sempre na história do râguebi mundial. Não há muitas equipas que se possam orgulhar de lhes marcar um ensaio e nós fizemo-lo e isso é muito importante. Nunca mais esquecerei o momento em que cantamos o primeiro hino nacional [contra a Escócia] e em que pisamos o relvado e sentimos que era mesmo verdade, que estávamos no Mundial. Fizemos uma grande defesa contra a Itália, que foi fantástica e onde a quinze minutos do fim estávamos a perder por 16-5, só com um ensaio sofrido, quando tínhamos perdido por 83 pontos há sete ou oito meses atrás. No jogo contra a Escócia quando tivemos a bola atacamos muitíssimo bem. Foi muito bonito. Nos primeiros vinte e cinco minutos contra os neozelandeses tivemos a coragem de nos pormos à frente deles com aquela valentia a demonstrar a raça portuguesa. Finalmente, contra a Roménia, estivemos muito bem tacticamente e soubemos por a pressão na equipa romena e obrigamo-los a cometer erros. Com um pouquinho mais de sorte e uma análise diferente [do árbitro] numa ou duas situações da partida, como a agressão ao Christian [Spachuk] o jogo podia ter mudado.

Portugal marcou quatro ensaios e teve três”man of the match”. Antes do Mundial pensava que isso iria ser possível?
Não vou mentir, porque os jogadores conhecem-me bem e sabem que tenho sempre um pensamento muito positivo. Mas nunca pensei que Portugal pudesse ter três “man of the match” e os resultados que tivemos aqui. Acho que superamos as expectativas e os objectivos que tínhamos colocado. Se tivéssemos chegado ao fim com todos os jogadores aptos, tínhamos saído com uma vitória. Não posso pedir mais e agora, foi o que disse à equipa, há que olhar para a frente e levantar a cabeça. Não há motivos para lamentações e a partir de agora vamos começar a preparar o Mundial de 2011 na Nova Zelândia.

Em 2003 disse, em entrevista ao PÚBLICO, que o Campeonato do Mundo de 2007 era um objectivo pelo qual iriam lutar arduamente. Em 2011 Portugal vai voltar a chegar a um Mundial?
Ainda vai acontecer muita coisa até lá. Acho que se forem dadas condições de trabalho, como foram dadas agora a esta selecção que trabalhou durante quatro meses junta, durante todo o ano, estou convencido que Portugal vai lutar centímetro a centímetro pela participação no Mundial de 2011.

O que é preciso fazer agora para o râguebi não voltar a cair no esquecimento em Portugal?
É preciso que no mês de Outubro os jogadores não dêem seis ou sete passos para trás e deixem de puder treinar no tempo que têm, nomeadamente os jogadores mais jovens. Acho que se deve manter este semiprofissionalismo. Nós não queremos um râguebi profissional. Queremos um râguebi semiprofissional, bem negociado com as empresas e universidades para que os jogadores possam treinar com os valores que a alta competição exige. Pretendemos também que seja criada uma academia de râguebi no Estádio Nacional e sejam dadas as condições materiais para que uma equipa trabalhe e possa depois jogar a este nível. Na selecção é isto que se pretende. Precisamos do acordo dos clubes para trabalhem num sentido só e sintam que isto também foi um trabalho deles. Se houver uma grande força a trabalhar no mesmo sentido, estaremos no Mundial de 2011 e depois em 2015.

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