quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Mundial de râguebi: "A equipa subiu muitíssimo", diz Tomaz Morais

Por: Hugo Daniel Sousa

PÚBLICO: Nestes últimos meses, foi possível trabalhar mais tempo com a selecção. Que aspectos foram melhorados?

Tomaz Morais: Numa primeira fase, trabalhámos a nível físico. Recorremos ao apoio do professor José Carvalho e do professor Fonseca e Costa, para maximizar o tempo e conseguir um incremento de massa muscular e transformar essa massa em potência, para conseguirmos ter mais velocidade. Todos os jogadores melhoraram os seus níveis. Depois fizemos um estágio nos fuzileiros, para fazer a analogia com aquilo que vai ser a competição, em que sujeitámos os jogadores a dificuldades extremas a nível físico e psicológico. A seguir, começámos a trabalhar o râguebi e a parte psicológica. A equipa subiu muitíssimo. Ainda não está no máximo, mas talvez a 85 por cento, mas com estas duas semanas vamos chegar aos 100 por cento. Nestas semanas conseguimos também trabalhar pormenores que habitualmente não conseguimos treinar quando nos juntamos à terça-feira para jogar ao sábado. Pudemos melhorar a qualidade técnica dos jogadores, o detalhe, e por isso a equipa elevou o seu nível. Só nos falta o ritmo de jogo, mas isso só jogando. Depois houve um período de recuperação de três semanas, porque estávamos em competição contínua desde Agosto de 2006. Depois, regressámos com um estágio familiar, para as famílias poderem sentir o que vivemos em equipa. Conheceram a nossa realidade, tiveram reuniões de equipa connosco.

Uma das questões que se tem colocado é a passagem ao profissionalismo no râguebi português. Acha possível?

Na minha opinião pessoal, o primeiro passo deve ser profissionalizar os jogadores que representam a selecção nacional, devem ter um subsídio mensal e um contrato com a federação. A partir daí, os clubes devem começar lentamente a assumir o profissionalismo, mas primeiro com os jogadores portugueses, porque actualmente está a acontecer o contrário: precisam de reforços e vão buscá-los lá fora. Por outro lado, temos de exportar mais jogadores e ter a coragem de os incentivar a saírem para os melhores campeonatos, como fizeram o Gonçalo Uva e o David Penalva.

Disse que um dos objectivos é Portugal voltar ao Mundial dentro de quatro anos. Fará parte desse projecto?

A federação convidou-me para assumir o projecto da selecção de Sevens para o Mundial de Kong Kong em 2009. Temos apalavrada a continuidade e essa continuidade estende-se à selecção de 15, mas temos de começar quase do zero. A maior parte dos jogadores abandonará a selecção após o Mundial. Uns por idade, outros porque já deram muito ao râguebi e querem dar continuidade às suas carreiras profissionais. Era mais cómodo para mim sair agora, como herói, até porque tenho outros convites, mas ainda me dá mais vontade de continuar e de ajudar o râguebi português.

Mundial de râguebi: Portugal quer perder por poucos em três jogos e ganhar à Roménia

Autor: Hugo Daniel Sousa

Quando selecções como a Arábia Saudita ou a China participam num Mundial de futebol, os objectivos são modestos e resumem-se a marcar um golo ou, eventualmente, ganhar um jogo. É mais ou menos este o cenário da selecção portuguesa de râguebi, a primeira equipa amadora a participar num Campeonato do Mundo da modalidade, que parte quinta-feira para França, onde se realiza o Mundial entre 7 de Setembro e 20 de Outubro.

“Perder por menos de 40 pontos” frente à Escócia e à Itália, não deixar que frente à Nova Zelândia haja “três dígitos no marcador” e “tentar surpreender a Roménia” são os objectivos definidos internamente pela comitiva portuguesa, revelou hoje Tomaz Morais, seleccionador nacional, em conferência de imprensa. “Seria uma ambição desmedida pensar em ganhar à Escócia, Itália e Nova Zelândia.”

Lembrando que a equipa portuguesa é formada por amadores - “uma vezes treinam às seis e meia da manhã e outras às nove da noite” -, Tomaz Morais salientou que no râguebi é mais difícil jogar para perder por poucos, porque é preciso atacar sempre e nenhuma equipa se pode limitar a defender. “Conseguimos um facto histórico e não são os resultados no Campeonato do Mundo que vão deitar estes jovens abaixo”, asseverou o seleccionador nacional, defendendo que “há atletas que vão aos Jogos Olímpicos só para melhorar as suas marcas pessoais”.

Portugal estreia-se no Mundial a 9 de Setembro frente à Escócia e no dia 15 enfrenta a Nova Zelândia, num jogo especial, embora Tomaz Morais não se sinta intimidado com a habitual dança dos All Blacks. “O Haka não me diz nada, nem sequer me arrepia”, diz o seleccionador nacional, enquanto Luís Pissarra, vice-capitão da selecção, promete responder à dança dos neozelandeses com “umas placagens”. Tomaz Morais acrescentou ainda que nesse encontro “cada placagem será uma vitória e os pontos ficarão na história do desporto nacional”. A Nova Zelândia lidera o ranking da Federação Internacional de Râguebi, lista em que Portugal é 22º.

A selecção nacional defronta ainda a Itália (19 Setembro) e a Roménia (dia 25), considerada por Tomaz Morais como “teoricamente a selecção mais acessível”, embora acima do nível português - é 16ª do ranking. “Se a Roménia tiver uma atitude facilitadora, poderemos ganhar”, defendeu, recordando uma vitória por um ponto sobre os romenos (16-15), em Fevereiro de 2003.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Râguebi: último treino em Portugal para derrotar Roménia e tentar parar Nova Zelândia

Por: Pedro Andrade Soares

Duas horas de exercício contínuo, placagem atrás de placagem, muito suor, camisolas rasgadas e uma união entre os jogadores que saltou à vista. Foi assim o último treino da selecção portuguesa de râguebi em solo português antes da participação inédita no Mundial da modalidade, que arranca no próximo dia 7, em França.

“Mete a bola bem à frente do peito” e “não tirem o pé” foram frases de incentivo repetidas hoje pelo seleccionador Tomaz Morais, num dos relvados do complexo do Estádio Nacional, aos 30 “lobos” convocados para a difícil e histórica tarefa de enfrentar a Nova Zelândia, a Escócia, a Itália e a Roménia, no Grupo C da competição.

“Temos de sair do Mundial de cabeça erguida. Os campeões são os que conseguem ultrapassar as adversidades. Mas não temos ambições desmedidas. Não podemos pedir à equipa que ganhe à Nova Zelândia” — considerada a melhor selecção do mundo, enquanto Portugal ocupa o 21º lugar do ranking mundial —, afirmou Tomaz Morais após o treino realizado entre as 10h e as 12h, sempre sob calor intenso, e que contou com apenas 20 espectadores. Aliás, segundo sublinhou ao PÚBLICO o defesa Pedro Leal (estudante de Economia, 23 anos), defrontar os “All Blacks” vai ser o “concretizar de um sonho muito antigo”, uma vez que será um jogo inédito em râguebi de XV.

"Falta-nos ritmo competitivo"

Com o seleccionador e os jogadores a falarem a uma só voz, os objectivos traçados para a participação de Portugal no Mundial são bem claros: todos querem “aguentar os três primeiros jogos” — Escócia, Nova Zelândia e Itália — sem permitir resultados muito desnivelados e vencer os romenos, no último encontro do grupo. Contudo, a Roménia apresenta uma selecção profissional — quase todos os seus atletas jogam em França —, ao contrário de Portugal, que é a primeira formação amadora (tem apenas cinco elementos com contrato profissional) a conseguir o apuramento para uma fase final de um Campeonato do Mundo de râguebi.

“Estamos na recta final da preparação. Temos realizado boas exibições, mas queremos resultados menos dolorosos. Isto é tudo novo. Falta-nos ritmo competitivo”, disse também Morais, referindo-se à derrota (42-12) frente ao Canadá, no sábado passado, em jogo de preparação para o Mundial. Agora, os “lobos” vão tentar ganhar o último encontro particular a disputar antes do arranque da prova — contra o Japão, que também estará no Mundial. O encontro realiza-se sábado (19h), em Treviso, Itália, para onde partiram hoje à tarde. Após o embate com os japoneses, regressam a Portugal, tendo direito a três dias de descanso antes da viagem para França, no dia 30.

Aos 31 anos, o médio de formação Luís Pissarra, o segundo jogador português com mais internacionalizações (71), sendo apenas batido por Joaquim Ferreira, considerou, em declarações ao PÚBLICO, que a selecção quer, em cada jogo, “marcar o máximo de pontos, para dignificar o país e o râguebi”. O médico veterinário, que representa a Agronomia (actual campeã nacional), acrescentou que, para isso, a carga de treinos tem sido muito forte, até para possibilitar depois a rotatividade de jogadores sem perder qualidade, tendo em vista as quatro partidas que Portugal realizará em apenas 16 dias — começa frente à Escócia no dia 9 e termina a fase de grupos com a Roménia a 25.