segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Vasco Uva: O advogado da honra portuguesa que não queria jogar râguebi



David Andrade, em Paris

O escocês Rory Lamont marcou dois ensaios, Dan Parks terminou com 15 pontos e Chris Peterson, a estrela da selecção da Escócia, também esteve em campo. Mas o “homem do jogo” da segunda partida do Grupo C do Campeonato do Mundo não marcou qualquer ponto e a sua equipa não venceu. No primeiro desafio de uma selecção amadora num Mundial de râguebi, foi um advogado que vive em Lisboa que recebeu a distinção, por parte da Federação Internacional de Râguebi (IRB), de melhor jogador em campo. Mas quem é afinal o líder desta selecção que no domingo surpreendeu pela sua coragem, garra e orgulho? A família Uva está muito bem representada na selecção portuguesa. João é o mais velho (27 anos) e é primo de Vasco (24 anos) e Gonçalo (22 anos). Com 12 anos, João Uva começou a jogar râguebi no Belenenses e, poucos anos depois, conseguiu que Gonçalo seguisse os seus passos. Mais difícil foi convencer Vasco que apenas aos 14 anos cedeu aos apelos do primo e irmão. Arriscou ir treinar uma vez, mas a experiência não correr da melhor maneira. Logo no primeiro treino partiu o nariz e decidiu que o melhor era dedicar-se ao desporto preferido na altura: o futebol. O jeito, porém, não era muito. Vasco ainda foi a uma captação nos infantis do Benfica, mas ficou de fora. Só aos 16 anos, por influência dos colegas da escola, resolveu dar uma segunda oportunidade ao râguebi. Foi jogar para o Direito, em Monsanto. Era o início da carreira do actual símbolo do râguebi português.

Futuro no estrangeiro
Antes de partir para França, em conversa com o PÚBLICO, o seleccionador português Tomaz Morais definia Vasco Uva como “capitão e líder da equipa” e deixava o aviso: “Está a ser observado por muito empresários e clubes. Tem todas as qualidades, apesar de jogar para o colectivo, para ser uma das figuras de referência do Mundial.” E o número 8 da selecção portuguesa é, antes de mais, um jogador de equipa e prefere fazer uma boa placagem do que marcar um ensaio, porque isso é “a excelência do râguebi”. Uma das imagens que ficaram na memória das centenas de portugueses que esperam o autocarro de Portugal na chegada ao estádio de Saint-Etienne, foi a de Vasco Uva a mostrar o punho cerrado em prova de confiança. Já no relvado, quando tocava o hino nacional, o capitão português, com a mão direita, nunca largou o símbolo de Portugal. No entanto, para Vasco Uva, o prazer de praticar a modalidade e o orgulho em representar a selecção portuguesa parece já não bastar. O jogador admite que está na hora de tentar uma experiência no estrangeiro. Apesar de encarar o râguebi como um hobby, que apenas “ocupa um pouco mais de tempo”, Vasco admite interromper o seu estádio em advocacia para tentar uma aventura num clube estrangeiro. De preferência “em Inglaterra ou França”. O irmão Gonçalo foi estudar para França, ao abrigo do programa Erasmus. Conseguiu um lugar no Montpellier e confia que o irmão mais velho vai ter a sua oportunidade “porque vai mostrar serviço”. No dia-a-dia, Vasco levanta-se às cinco horas da manhã para treinar pela primeira vez. Segue depois para o seu estágio, num consultório de advogados e, no final do dia, volta a treinar outra vez. Comparado por Rui Alvarez, o manager da selecção portuguesa, a Olivier Magne (um dos melhores jogadores franceses dos últimos anos), Vasco Uva deslumbrou no jogo contra a Escócia. Correu quilómetros, placou tudo o que tinha que placar e, apesar de se considerar “um jogador defensivo”, esteve perto de chegar ao ensaio no segundo tempo. A exibição portuguesa em Saint-Etienne encheu de orgulho todos os portugueses presentes no estádio e surpreendeu quem ainda não conhecia o valor da selecção portuguesa, mas foi com o justo surgimento do nome de Vasco Uva, no ecrã gigante do estádio, como “man of the match” que Portugal marcou, definitivamente, uma posição no râguebi mundial.

2 comentários:

Anónimo disse...

O Vasco assim como toda a equipa estão de parabéns, independentemente de todas as proezas que vão continuar a realizar até ao fim da sua participação no mundial. Através deles o râguebi ganhará um novo folêgo em Portugal e estou certa que esta será uma rampa de lançamento para muitos deles na carreira internacional.
Apesar das exigências físicas desta modalidade era importante aproveitar esta oportunidade para dar a conhecer a componente estratégica e de trabalho de equipa da mesma, talvez assim passe a ser de interesse público...

Hugo Braun disse...

Um forte abraço para todos vocês!