quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Entrevista a Luís Pissarra


David Andrade, em Paris

É o vice-capitão e um dos mais emblemáticos jogadores da selecção portuguesa. Com 31 anos, o médio de formação de Portugal que actua na Agronomia explica o que sentiram os jogadores portugueses na estreia no Campeonato do Mundo.


PÚBLICO – Os jogadores portugueses festejaram quando entraram no relvado do estádio. O que sentiram nesse momento?
LUÍS PISSARRA – Entrar no relvado foi o concretizar de um sonho. Era tudo o que ansiávamos e foi para isso que andámos a treinar. Foi o libertar de tudo: de todos os sacrifícios que fizemos, de todo o tempo que andámos a trabalhar ao longo destes últimos anos. Pisar a relva do estádio em Saint-Etienne foi um momento em que libertámos tudo o que passámos e foi o concretizar de um sonho e de um objectivo.

Ficaram satisfeitos com a exibição?
Ficámos satisfeitos com alguns aspectos do jogo. Acho que nos podemos sentir orgulhosos e damos um grande valor ao facto de as pessoas terem reconhecido todo o esforço, coração e vontade que metemos no jogo. Por aí, ficámos muito satisfeitos. No entanto, podíamos ter conseguido um resultado menos dilatado e marcado mais pontos. Houve alguns pontos em que facilitámos e nesse aspecto ainda temos que melhorar. Sentimos que os nossos objectivos foram cumpridos, mas ficou um amargo de boca porque sentimos que ainda podemos fazer melhor.

No intervalo chegaram a pensar que podiam vencer? O que disse Tomaz Morais nessa altura?
Disse-nos que havia pontos que podíamos melhorar. Principalmente nos alinhamentos, que era onde estávamos a falhar bastante, e estivemos a definir algumas situações de defesa. A vitória passou pela cabeça de toda a gente porque estávamos a conseguir pressioná-los, mas não foi equacionado como um objectivo assumido colectivamente. Foi um objectivo que passou pela cabeça de todos nós, mas o objectivo principal era resolver os problemas que nos estavam a aparecer e tentar melhorar o nosso jogo.

Os escoceses afirmaram, no final, que os jogadores portugueses placaram muito e sempre baixo. É essa a grande arma portuguesa?
É a nossa grande arma, mas reflecte o nosso ponto forte dentro do grupo que é a união, coragem, entrega ao jogo e espírito de sacrifício. Isso depois reflecte-se na nossa defesa e no estilo de placagem que a nível internacional está a ser pouco utilizado, porque as equipas são muito mais físicas. Nós usamos este estilo de placagem que nós chamados de “aos joelhos, ligamentos ou tornozelos” para os derrubar e atemorizar no jogo e fazê-los sentir que estamos presentes e somos duros.

Foram aplaudidos de pé, por todo o estádio. Foi uma surpresa?
Acabou por ser uma surpresa por ser muita gente e não estamos habituados. Mas, principalmente, porque apesar de o resultado ter sido dilatado, embora tenha ficado aquém das “tareias” que muita gente do râguebi estava à espera, todo o público, não só o português, mas também os escoceses e franceses que estavam presentes, reconheceu a nossa entrega e reconheceu que as dúvidas que por vezes surgiram na imprensa internacional sobre a presença ou não de Portugal no Campeonato do Mundo eram infundadas. Provámos que somos uma equipa que merece estar aqui e o reconhecimento foi dado pelo público.

O que é preciso mudar para os próximos jogos?
Cada jogo será diferente e o desafio contra a Itália poderá ser o único semelhante ao da Escócia, embora a Itália tenha um jogo mais abrangente que envolve mais os três-quartos e é mais rápido. A Roménia tem um estilo de jogo diferente e a Nova Zelândia é a Nova Zelândia. Jogam em explosão e em velocidade. Em cada jogo temos que nos habituar ao ritmo de jogo, porque é a grande diferença que nos separa destes países que estão habituados a um ritmo de jogo alucinante, com a bola sempre em movimento, e nós, se calhar, estamos habituados a situações mais tranquilas. Cada erro que cometemos, e não só a defender, onde tivemos algumas placagens falhadas, sai caro e cada bola vale ouro. Temos que as aproveitar ao máximo porque depois podemos ter muitas dificuldades em voltar a tê-la na mão.

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