domingo, 23 de setembro de 2007

Entrevista com Gonçalo Uva


David Andrade, em Paris
Foto: António Lamas/PRS

PÚBLICO - Foi titular nos três jogos que a selecção portuguesa já disputou no Campeonato do Mundo. Como é que avalia a prestação de Portugal nesses três encontros?
GONÇALO UVA - Cumprimos vários dos objectivos propostos, apesar disso, devido à falta de experiência em competições com equipas deste nível, os nossos erros pagaram-se caro. No primeiro jogo [contra a Escócia] pode ter sido pela pressão, por ter sido a estreia, e falhamos muitas placagens. O segundo jogo foi especial. Foi contra a Nova Zelândia que é a melhor equipa do mundo. Começamos bem e fizemos 25 minutos de muito bom nível, mas depois de marcarmos os primeiros três pontos fomos um pouco a baixo e tiramos o pé do acelerador, o que não pode acontecer. Contra a Itália foi o melhor jogo defensivo que fizemos, mas cometemos erros a nível atacante. Talvez tenha passado por aí a diferença no resultado. Mas estou muito satisfeito com o Mundial e sabemos que nas próximas competições vamos fazer melhor.

Acha que a criação de um Campeonato Europeu seria positivo para a modalidade?
Acho que sim, mas teríamos que ver que equipas iriam participar. Nós participamos no Torneio das Seis Nações B, mas precisamos de selecções de nível superior. Jogamos contra a Geórgia e a Roménia, que já têm um nível elevado, mas precisamos de procurar mais. Temos que ser ambiciosos e jogar contra selecções do nível de Samoa, Fiji e Canadá como fizemos na preparação. Ou até mais alto, como Escócia e Inglaterra para conseguirmos evoluir e ganhar experiência.

Avançar para um regime semi-profissional em Portugal é indispensável para o desenvolvimento do râguebi português?
Acho que vai ser complicado assumir um profissionalismo completo. Temos que ir por etapas e a primeira era, sem dúvida, o semi-profissionalismo a nível da selecção. Ou seja, era preciso arranjar um grupo de jogadores que assinassem um acordo com a federação e que fossem pagos e treinassem a outro nível que não o dos clubes. Mas a nível de campeonato nacional vai ser muito difícil, porque não há condições, jogadores, dinheiro e apoios.

A Federação Internacional de Râguebi (IRB) pretende reduzir o número de selecções no próximo Campeonato do Mundo para 16. O que pensa sobre isso?
Uma das questões colocadas pela IRB é a parte financeira, mas isso não faz sentido e Portugal é um bom exemplo porque tem enchido os estádios. Para além disso, os países chamados de pequenos têm dado luta aos grandes, como se viu hoje [ontem] com Samoa e Tonga. Ao haver um corte, acho que vai-se criar uma maior distância entre as pequenas e as grandes equipas. Se o râguebi quiser evoluir vai ter que manter as 20 selecções.

O Gonçalo é irmão do Vasco Uva que é, provavelmente, a principal figura da selecção nacional. Como é que avalia o desempenho dele neste Mundial?
Fantástico! No primeiro jogo foi o ‘mvp’ e não podia começar melhor. Ele teve um pequeno problema antes de vir e não esteve a treinar e acho que essa foi a melhor resposta para os que achavam que não ia estar apto para o jogo. Fez também um grande jogo contra a Nova Zelândia, com placagens como pouco se vê. Contra a Itália, para mim, foi o melhor em campo e deveria ter merecido essa distinção. Com a lesão dele, vou sentir muito a falta dele como irmão e a equipa vai sentir a falta dele dentro do campo contra a Roménia.

Quais são os pontos fortes e fracos da Roménia, o último adversário de Portugal?
A Roménia tem-se batido muito bem e tem evoluído muito. Tem um ‘pack’ avançado muito forte e são sólidos nos alinhamentos e formações. Ao acharem-se muito fortes fisicamente pensam que nos podem atropelar e passar por cima o que facilita a placagem porque não trocam de direcções. Depois têm uma fraca reorganização defensiva e é por aí que temos que atacar.

Uma vitória nesse jogo para Portugal significa vencer o seu Campeonato do Mundo?
Na minha opinião, e é aquilo que o Tomaz Morais tem dito, já fizemos um grande percurso até agora apesar de achar que podíamos ter feito melhor. Mas ganhar à Roménia é merecido para todos nós e para todos os que nos têm apoiado. Sem dúvida seria ganhar o nosso Campeonato do Mundo.

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